segunda-feira, 30 de agosto de 2010

"Todo aquele que não consegue fazer frente à vida enquanto está vivo precisa de uma das mãos para afastar parte do desespero que sente perante o seu destino - com pouco êxito -, mas com a outra ele pode anotar o que observa entre as ruínas, porque é capaz de ver qualquer coisa diferente (e muito mais) do que os outros vêem; apesar de tudo, mesmo morto durante a vida, ele é o verdadeiro sobrevivente". Franz Kafka in Diaries of Franz Kafka. Extraído de Andy Warhol, Cinemateca Portuguesa, julho de 1990.

O começo

Bem, vamos tentar.
Vou começar explicando o que me fez iniciar um blog. O que nada mais é do que uma tentativa de me convencer de que, de fato, isto vai ter algum sentido para mim...
Trabalho com arte. Ou melhor, tenho formação artística - graduado em pintura, mestre em artes visuais, doutor em comunicação e semiótica - mas hoje me dedico mais a administração (!), uma vez que me tornei diretor do Instituto de Artes e Design da UFPEL. Então meu tempo para produzir arte foi se tornando mais escasso. São escolhas que se faz. De vez em quando - quando as coisas parecem se tornar mais difíceis - parece que "ter produzido alguma coisa (alguma forma de arte)" é o que garantiria algum sentido a existência. Mas enquanto a gente consegue manter esses momentos à distância, continuamos ocupando o tempo com as rotinas cotidianas que fazem passar o tempo sem que a gente perceba.
Então gosto de ler. Gosto de dialogar mentalmente com alguns sujeitos que, de uma maneira breve, costumam nos contar alguma coisa no meio do turbilhão de informações cotidianas. Leituras curtas e suscintas, mas de profissionais. De vez em quando me surpreendo elaborando alguns pensamentos que tem quase a forma dessas crônicas que as vezes leio e com quem consigo esses diálogos. Obviamente nunca vou ter tempo para me dedicar a escrever "de verdade". Isso exigiria tanto compromisso. Já tentei uma oficina de criação literária, mas não consegui ir adiante. Outra vez tentei começar a escrever um diário, mas esbarrei na justificativa que queria dar para o fato de estar escrevendo. Foram duas páginas de uma escrita verborrágica e tão chata que me fez desistir. Agora vou passar logo esta parte para ver se, daqui a pouco, começo a contar coisas. E vamos ver o que vai sair. Não custa tentar. Vai ser como escrever um e-mail para um amigo, que é uma coisa que faço diariamente, só que não vai ser para uma pessoa específica. Vai ser para uma mistura de todos, um pouco de cada. Um patchwork. Um treinamento. Um exercício coletivo. E talvez agora pelo menos eu tenha paciência para me ler e ver o que sobrou.