quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sessão da tarde

Como ainda estou num ritmo lento - no último encontro com o médico ele ressaltou a necessidade de um recondicionamento físico gradual - é bom e necessário passar as tardes em casa. Sobretudo com esses calores úmidos e tórridos. Então, muitas comédias românticas e filminhos leves, intercalados por algumas leituras igualmente leves. Aí resolvi retomar um livro que ganhei de um amigo, Jefferson: Marilyn e JFK. Um dia estava no apartamernto de Brod em Porto Alegre e vi esse livro por ali. Não imaginava o que o levaria a se interessar por esse assunto e tampouco eu já tinha me interessado sobre esse caso. Então ele abriu o livro e apontou para a epígrafe, que dizia o seguinte:

A ascensão de Marylin

"Os Federais haviam colocado escutas. Nas duas últimas semanas, ela tinha 'traçado' o disc-jóquei Allan Freed, Billy Eckstine, Fred Otash, Jon Ramar of the jungle Hall, o cara que limpava a piscina, dois entregadores de pizzas, o amestrador de Rin-Tin-Tin, o apresentador de talk-shows Tom Dugan e o marido da faixineira."

James Ellroy, 
American Tabloid

Algumas semanas depois, ganhei o referido livro de Jefferson. Comecei a folhar. A leitura é fácil, tem um ritmo empolgante de romance policial. Claro que, em alguns dias, não consegui dar continuidade a leitura e o livro acabou entrando para uma pilha crescente que se acumula na minha mesa de 'coisas que estou lendo'. Mas agora, neste período de calma, retomei-o. O autor é um francês, François Forestier. O livro é interessante por apresentar um ponto de vista histórico pouco evidente, sem pretender lançar mais uma teoria conspiratória a respeito da morte dos protagonistas. Nem toca nesse ponto, mas aponta para algumas curiosidades bem interessantes. A narrativa se concentra nos bastidores da vida de Marilyn e JFK, o que envolve a Máfia, FBI, CIA e Hollywood. Vários personagens tornados célebres pelo star sistem aparecem intercalados por nomes totalmente anônimos ao mundo do entertainement, afinal trata-se de espionagem. Franck Sinatra, Liz Taylor, Grace Kelly e outras estrelas de Hollywood vistas sob um prisma não tão glamouroso, mas ainda como mortais em busca da luz que iria eternizá-los. E de todos os esforços que precisaram fazer para alcançar o patamar que atingiram. O livro, no entanto, peca um pouco pelo tom demasiado ácido do autor. Isso o destitui de uma certa "neutralidade" que garantiria plena fidedignidade, mas talvez seja esse mesmo aspecto que lhe confira o ritmo empolgante. Forestier fala dos Kennedy como uma corja de irlandeses imundos e grossos, sempre envolvidos com a máfia ou o submundo do crime. E quem está por perto também. Às vezes o livro adquire um tom de ressentimento, de alguém que não pertence a certo universo e por isso precisa se vingar de quem vive num mundo de poder e riqueza. Apenas numa frase do livro Forestier concede um crédito a JFK: logo em seguida à morte de Marilyn "JFK está com as mãos livres para se ocupar dos mísseis soviéticos em Cuba. O que faz com brilho, evitando por um triz a devastação mundial". Quanto a Marilyn, talvez tenha sido o melhor papel que Norma Jeane interpretou. Quase um reallity show onde ela é a diva. Após o epílogo do livro, duas partes nos situam dentro do universo percorrido pelo autor, que nos informa suas fontes de pesquisa - uma vasta bibliografia sobre todos os personagens - e um In memoriam que nos diz como o futuro se encarregou de todos eles: a maioria morreu assassinada ou de câncer. Mais algumas curiosidades: ao mencionar o que aconteceu com um dos personagem, James J. Angleton, o autor informa que o arquivo Kennedy da CIA será aberto apenas em 2029; e depois de todas as conspirações e tentativas de assassinato, um dos únicos ainda vivos é Fidel Castro, que sobrevive numa Cuba agonizante, pós JFK e pós URSS.

FORESTIER, François. Marilyn e JFK. Tradução de Jorge bastos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.