sábado, 11 de dezembro de 2010
O pacto com a ciência
Acordei e Adriane estava na minha frente: "Tudo bem Lauer? Lembra que combinamos que estaria te esperando? Correu tudo bem na cirurgia". Acho que talvez eu tenha balbuciado algo como "dá notícias pra Lúcia e para o Rogério". Depois, apaguei novamente. Não lembro de ter comido sorvete após ter sido desentubado. Acordei na UPO sentindo uma sede como se fosse a última alma do Sahara. Chamava as enfermeiras que apenas molhavavam minha boca com gaze. Era uma cena bíblica, ancestral, aquela necessidade de água e aquelas gotas pingando na boca. Em dado momento começaram a me dar água para beber. Bebia com tanta avidez que vomitava/espirrava segundos depois. Não me deram mais água e eu roubei um copo. Uma enfermeira viu e pulou em cima de mim. Disse que nem molharia mais minha boca, pois eu "havia feito arte". Reclamei de dor e eles injetaram morfina. Apaguei novamente. Ou permaneci naquele estado letárgico que não se sabe se é sonho ou realidade. Via pessoas passarem prá lá e prá cá, colocavam remédios nos drenos e tiravam sangue para exames. Um anúncio escrito numa porta lateral a minha cama povoou meus olhos durante dois ou três dias que pareceram séculos: ISOLAMENTO. Os leitos eram divididos com paredes de vidro jateado, no interior das quais haviam reproduções de grandes mestres da pintura. Ao meu lado havia um Van Gogh que formava um jogo de reflexos com a palavra ISOLAMENTO que era lida em todos os sentidos e direções possíveis. Começaram as visitas do cirurgião e da família. No domingo à tarde um médico de plantão, que me parecia um garoto, veio até mim e disparou à queima roupa: "você ainda está com o marcapasso mas seu coração não retomou seu ritmo. Se isso persistir nós precisaremos instalar um marcapasso definitivo!!!" Aquilo caiu como uma bomba!!! Minhas irmãs foram me visitar e pedi para que avisassem ou chamassem todos meus amigos médicos. Duas horas depois o Dr. Roberto Oliveira, primo de meu pai, estava lá mas eu permanecia inconformado por trocar seis por meia dúzia: uma doença assintomática, por uma cura que exigiria muito mais cuidados e atenções!
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